J'entends la ville dans cette intonation du parler qui la rend singulière. Une intonation que je ne retrouve que dans le fado le plus primitif, le plus populaire, une offrande que, de nos jours, on a rarement le privilège d'écouter. Oui, une offrande rare. Après Marceneiro, après Amalia et la vieille dynastie des fêtes populaires, on la perçoit chez Carlos do Carmo, "l'homme de la ville". Ceux-là et quelques autres. Chez eux seuls la voix a cet accent enraciné et modelé à travers les dialogues de quartier, et gare à celui qui se mettrait à solfier des folklores dans l'espoir de le capter. Hormis le déjà impossible recoin du fado vagabond que l'on rencontre dans les hasards du Bairro Alto, tout ce qu'on trouve c'est une suite de traits typiques expédiés à la va-vite sur une guitare en arabesques maures et en glapissements consonantiques pour que l'on puisse dire que das ist fado, das ist saudade.
José Cardoso Pires, Lisbonne, Livre de bord, Voix, regards, ressouvenances, Gallimard, 1998
No castelo, ponho um cotovelo
Em Alfama, descanso o olhar
E assim desfaz-se o novelo
De azul e mar
À ribeira encosto a cabeça
A almofada, na cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que meus olhos vêem tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
No terreiro eu passo por ti
Mas da graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha, sorri
És mulher da rua
E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que soube inventar
Aguardente de vida e medronho
Que me faz cantar
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que meus olhos vêem tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
Lisboa no meu amor, deitada
Cidade por minhas mãos despida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
Lisboa menina e moça, letra e musica : Ary dos Santos e Paulo de Carvalho