Poema de Miguel Torga musicado em Fado : A Cigana - Teresa Ventura

Lia a sina a cada um
Na palma de cada mão;
Não desgraçava nenhum,
Nem lhe tirava a ilusão.

Toda a donzela paria,
Todo o homem navegava;
E nem a moça sofria,
Nem o rapaz naufragava.

Um amigo em cada linha,
Um triunfo em cada dedo;
Nos seus lábios ia e vinha
A reserva dum segredo.

Não se mostra uma paixão
Tal e qual, à luz do dia;
Cobre-se-lhe o coração
Da rede duma ironia.

Mas quem tem penas no peito,
Entende acenos discretos;
Sabe ficar satisfeito
Com afagos indirectos.

E em toda a grande praça
A multidão que a enchia
Vivia daquela graça
E do bem que repartia.

Porque nascera cigana,
Sem fronteira no sorriso,
A sua palavra humana
Conhecia o paraíso.

E ali, mulher, o mostrava
A quem, faminto, o pedia:
A quem, crédulo, o comprava
Pelo preço que valia.

 

Miguel Torga, A Cigana

Diário III, Coimbra, 19 de Junho de 1946

Poema de Miguel Torga musicado em Fado : A Cigana - Teresa Ventura

 Pas plus que le saint, l’artiste n’est un opposant au pouvoir.

Il est l’opposé du pouvoir, même sans atteindre à la sainteté.

Plus qu’un révolutionnaire, c’est un révolté ; et plus encore qu’un révolté, un rebelle.

Un champion de la liberté, tellement libre qu’il vit en lutte permanente avec ses propres démons.

Miguel Torga, Journal (1977) 

 

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